sábado, 2 de agosto de 2014

Caso Santander mostra como Brasil já se aproxima do bolivarianismo - Rodrigo Constantino

Caso Santander mostra como Brasil já se aproxima do bolivarianismo

O presidente do PT, Rui Falcão, afirmou na noite desta sexta-feira (25) que o banco Santander pediu desculpas pelo texto distribuído para correntistas em que descreve a reeleição da presidente Dilma Rousseff como uma ameaça à economia. Ele disse que foram feitas demissões na instituição.
“Já houve um pedido de desculpas formal enviada à Presidência. [...] A informação que deram é que estão demitindo todo o setor que foi responsável pela produção do texto. Inclusive gente de cima. E estão procurando uma maneira resgatar o que fizeram”, disse Falcão.
A militantes do PT do Rio, Falcão classificou o caso como “terrorismo eleitoral”. Mas afirmou que aceita as desculpas do banco.
“Aceito as desculpas do banco, mas isso não elide o que aconteceu. Isso é proibido. Instituições bancárias ou financeiras não podem fazer manifestações que interfiram na decisão do voto.
Eis o documento que o banco enviou para cerca de 40 mil clientes:
Para quem não lembra, o Santander já passou por situação similar antes, quando demitiu seu economista-chefe, o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, que tinha discordado com veemência do então presidente da Petrobras em um evento.

Hoje, Sérgio Gabrielli foi condenado pelo TCU pelo prejuízo de quase US$ 800 milhões causado à estatal na compra da refinaria no Texas, enquanto Schwartsman tem uma consultoria independente que tem acertado com precisão vários alertas sobre a inflação elevada no país.

A decisão de demiti-lo, na época, foi política: a Petrobras é um enorme cliente do banco, e houve pressão após o mal-estar causado no debate entre os dois – no qual Schwartsman estava certo, diga-se de passagem, ao apontar o uso da empresa para fins políticos e partidários, com sua “contabilidade criativa”.

Falcão, do PT, disse que o comunicado do banco é “terrorismo eleitoral”, mas a acusação é ridícula! O que os especialistas do banco fizeram foi nada mais do que constatar, para seus clientes, o óbvio ululante, que qualquer estagiário da menor corretora do país já sabe: quando saem novas pesquisas com queda de Dilma, a bolsa sobe e as ações das estatais disparam.

Ou seja, todos sabem que os investidores morrem de medo de mais quatro anos de Dilma no poder, e o banco tem, inclusive, a obrigação moral de alertar seus clientes dos riscos que enxerga. Política tem muita influência na economia, especialmente em um país como o nosso, com excesso de poder concentrado em Brasília. Uma gestão intervencionista e incompetente, como a de Dilma, tem enorme poder de estrago.

A demissão da equipe responsável pelo documento – se verdadeira – é um sinal de alerta extremamente grave da situação em que o Brasil se encontra. Não há mais independência nas empresas. São todas reféns do governo. Não podem criticar, tampouco mostrar para seus clientes o que todos já sabem, se isso afetar negativamente o governo atual. Devem esconder a realidade para não “ofender” o governante.

Se isso não é autoritarismo à lá Venezuela, então não sei o que é. Hayek já dizia, em seu clássico O Caminho da Servidão, que sem liberdade econômica acabava a liberdade política. Ele estava certo. O caso esdrúxulo do Santander, tendo que recuar dessa forma acovardada e subserviente, comprova isso com perfeição.

Fecho com um alerta de Roberto Saviano, o italiano que enfrentou a máfia, feito em A beleza e o inferno: ”Pergunto à minha terra se ela ainda consegue imaginar que pode escolher. Pergunto-lhe se é capaz de realizar, pelo menos, esse primeiro gesto de liberdade que está em conseguir pensar-se diferente, pensar-se livre. Não se resignar a aceitar como um destino natural o que, ao contrário, é obra dos homens.”

Rodrigo Constantino

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